segunda-feira, 23 de março de 2020

O isolamento

Os sonhos acabam sempre por se realizar, mas nem sempre nos moldes que esperamos. Toda a gente se queixa de falta de tempo, a vida é a correr e muitas vezes nem sabemos para onde! Agora o mundo parou, ou uma boa parte dele, nós temos tempo de sobra, mas falta-nos a liberdade, faltam-nos os outros.
Na correria da vida há muito que sonhava com uns dias em casa, para simplesmente descansar e não fazer grande coisa, mas ia adiando. Quando tiro férias sinto que são mal aproveitadas para simplesmente parar e, de repente, esse pedido é concretizado, embora com um sabor a amargo. De repente também, não posso sair quando quero, não posso aproximar-me, não posso estar com quem gosto, não posso nadar, não posso andar de bicicleta, correr é só um bocadinho e não posso ficar indiferente à injustiça que é para quem tem de trabalhar, quem tem de lutar nesta guerra estranha...
Vamos no décimo dia em casa, sem trabalho, e no sexto de prisão domiciliária, mas não me queixo! Dou graças pelo tempo, por poder parar, apanhar o sol amarelado na janela do meu quarto que me faz sonhar; observar cada dia as folhas que começam a nascer na árvore do jardim e no chão; aproveitar o conforto da casa; sobretudo descansar e viver das coisas simples.
Sinto-me segura e em paz, mas com o coração nas mãos a rezar e a pedir que tudo isto acabe cedo! E saibamos e tenhamos coragem para renascer depois. Não vou poder ter as férias com que andava a sonhar, mas há pessoas em situações bem piores. No fim se  o que perder for apenas uma viagem, se tiver a oportunidade de viver momentos parecidos aos que ia ter, cada abraço será eterno.