segunda-feira, 18 de julho de 2016

O FIM

De manhã, senti-me absolutamente medonha. Não tinha dormido bem. A ansiedade parecia aumentar a violência do martelar na minha cabeça(...)
A sua expressão continuava estranha. Havia algo no fundo do seu olhar que eu não sabia bem o que era e isso assustava-me. Não quis falar na noite anterior, mas não tinha a certeza se continuar a evitar o assunto seria ainda pior.
Vem dar um passeio comigo - sugeriu com uma voz calma.
Não respondi. Aquela situação não me agradava. «Isto está mau, muito mau» repetia uma voz dentro da minha cabeça vezes sem conta.
Era o que eu queria, relembrei a mim mesma. Uma oportunidade para conversar sobre tudo. Então porque é que o pânico me sufocava?(...)
- Nós vamo-nos embora!(...) O meu mundo não é para ti - respondeu-me melancolicamente.
- Tu prometeste! Tu prometeste que ficarias...
- Não quero que venhas comigo-e proferiu tais palavras lentamente e com precisão, de olhos pregados no meu rosto, vendo-me entender o que ele na verdade queria dizer.
- Tu...não... me ... queres?
- Não.
Fixei-lhe os olhos, sem compreender. Retribuiu-me o olhar sem sinais de desculpa. Os seus olhos eram como topázio: duros, límpidos e muito profundos. Sentia que diante deles, a minha vista alcançava infinitas extensões. Porém em nenhuma parte das suas intermináveis profundezas via algo que contrariasse a palavra que ele acabara de articular.
- Bem, então isso muda tudo. -Fiquei surpreendida com a calma e moderação que se apoderaram da minha voz. Devia ser por estar tão abatida. Não conseguia entender o que dizia, continuava a não fazer qualquer sentido.
-É claro que sempre te amarei... de certo modo.Estou farto de fingir ser algo que não sou, deixei que se arrastasse muito tempo e peço desculpa por isso.
- Não. - A minha voz, não passava de um sussurro, tomava consciência da realidade que percorria como ácido as minhas veias. - Não faças isso.
Limitou-se a fixar-me e eu vi nos seus olhos que as minhas palavras tinham chegado tarde demais.Ele já o fizera.(...)
Todo o meu corpo ficou entorpecido. Não sentia nada abaixo do pescoço. Os meus joelhos devem ter começado a tremer, pois de repente parecia que as árvores abanavam. Escutava o sangue correr mais depressa que o normal.
- Não te preocupes, o tempo cura todas as feridas.
- E as tuas recordações?- perguntei.
Deu um passo, afastando-se de mim.
- Tenho de ir.
Tentei respirar normalmente. Tinha de me concentrar, de encontrar uma forma de sair daquele pesadelo..
- Adeus. - disse ele com a mesma voz calma e serena.
-Espera! - consegui pronunciá-lo com muito esforço tentando alcançá-lo.
Inclinou-se e, por um brevíssimo instante, encostou levemente os lábios à minha testa.
- Cuida-te! - suspirou.
E desapareceu.
O amor, a vida, o sentido... tudo terminado.
Caminhei. O tempo não tinha qualquer lógica. (...)
O som do seu nome soltou tudo aquilo que destroçava o meu interior- uma dor que me deixava sem fôlego e cuja violência me surpreendia.
- Não consigo falar mais sobre isto, pai, quero ir para o meu quarto.
Senti o soalho liso debaixo dos joelhos, depois sob as palmas das mãos e, por fim, senti-o encostado à pele do rosto. Esperava desmaiar, mas, para a minha desilusão, não perdi os sentidos. As ondas de dor que, anteriormente, me tinham apenas tocado ao de leve elevavam-se agora bem alto, precipitando-se sobre a minha cabeça e empurrando-me para o fundo.
Não voltei à tona."



sábado, 16 de julho de 2016

Morri afogada

Cheguei à praia desejada mas morri afogada!!!!
Tanto tempo a sonhar, a imaginar como seria apanhar aquela onda, remar naquela maré, contrariar alguma corrente que pudesse aparecer, muitas vezes a não acreditar mais que algum dia conseguiria chegar à praia, para depois morrer afogada!!
Óh sorte malvada, vida má, pedras que me fazem tropeçar e agora ainda pesam como chumbo nos meus bolsos enquanto sinto a água  a passar por mim..
A morte é mesmo assim, lenta... a água vai invadindo cada pedacinho do meu corpo, já não consigo respirar, "sinto-me enrolada pela força do mar, ondas revoltadas quebram-se com violência", sou obrigada a desistir, só por uns instantes, deixo-me à deriva, pois já não sei nadar, quero mexer o braço e não consigo, sinto-me anulada, bloqueada, mesmo assim tudo parou neste oceano, sem me mexer sinto que sou a única em movimento...
Reconheço esta sensação, desta x é a sério, estou mesmo a afogar-me, reabriu-se o buraco no peito, agora cheio de água, não vou dar mais luta, vou deixar-me ir...pode ser que o oceano me leve a um abrigo seguro.
Fico só eu com Deus, Ele jamais me abandona, tudo cria e faz-me ver que só o Amor importa, e eu amo estas águas que me sufocam e levam à morte assim como amei cada braçada que dei...
Quando o pensamento se apagar, chego à terra dos sonhos, vou devolver o meu à Natura, ela vai ficar surpreendida, vai-me fazer perguntas, e eu vou ficar chateada, vou responder mal, ou vou dizer a verdade que ela sempre quis saber... nada importa estou-me a afogar... vou só lá devolver o sonho, e quando passar pela cascata mágica, onde olhamos e podemos ser o que quisermos, eu esta noite quero voltar a ser a ninocas...
Amanhã talvez acorde, talvez consiga voltar ao rio e recomeçar... hoje morri afogada :(