segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Como é possível sermos enganados assim?

Como é possível acharmos que gostamos muito de alguém, fazermos o outro acreditar nesses sentimentos que afinal não existem e não passam de ilusões ou alucinações? Como é possível?
Não sei e espero nunca saber. Um dia também eu vou deixar de procurar o sentido, um dia também o meu pensamento vai esquecer; um dia a razão vai convencer o coração... até esse dia chegar, resta-me esperar que o tempo passe, esse tic tac que sempre conspira a nosso favor e oxalá pelo caminho eu me consiga lembrar que a vida continua e não pára, parará a qualquer instante e por isso há que vivê-la e saboreá-la. Tem sido difícil mas tudo é possível, até vivermos um amor de mentira e convencer a outra pessoa do que não existe; mostrar uma ponta do iceberg que é falsa e em nada corresponde à realidade... por isso também é possível que eu me levante.
Quantas vezes mais o meu coração aguentará ser dilacerado assim? Não sei.. desta vez até eu pensava que era mais forte e tudo me fugiu debaixo dos pés.
Eu vou sobreviver, eu um dia vou voltar a acreditar, mesmo que seja novamente invadida pelo medo, um dia quando voltarem a abraçar-me e a dizer que vai dar certo, que querem que dê certo e que gostam de mim, um dia vai ser verdade, um dia alguém vai respeitar-me e ser sincero e ser ele próprio e se tiver que partir que não seja assim, que seja em consonância e consistência com tudo o que se viveu, com sinceridade, sobretudo com sinceridade e honestidade. Essas coisas acabadas em "ade" que são tão complicadas de fazer!
Às vezes ainda acordo a meio da noite ou a meio do dia e parece um pesadelo mau, às vezes ainda tenho dificuldade em acreditar que tudo isto aconteceu, apesar de todo o cuidado em cada passo dado.
Mas quem sou eu para condenar seja o que for?! É tão fácil apontarmos os dedos aos erros dos outros. E no mesmo instante erramos, em pensamentos, em palavras e talvez em acções.
Mas magoa, dói que se farta, uma ferida aberta tantas vezes já mal curada, baralha, confunde, deixa-me perdida, desmotivada.
Dói a ilusão em que nos fizeram acreditar, dói a forma como nos abandonam, dói a falta de honestidade que anula e desrespeita tudo o que se construiu, não ao longo de 2 ou 3 meses, mas ao longo de anos.
Podemos deixar de gostar, sim é normal; podemos até iludir mo-nos com algo distante e surreal, que depois na realidade percebemos que não é bem assim, talvez possamos sim, mas não erradicamos uma pessoa das nossas vidas, uma pessoa supostamente importante, que sempre esteve lá, em duas semanas. Custa a explicar, imagino que custe; custa a falar, imagino que custe, o mais fácil é desaparecer sem deixar rasto e silenciar para que também essa pessoa se canse e desapareça. O respeito, a autenticidade, a sinceridade outrora apregoadas, não passaram de um capricho, pois essa pessoa, dias antes tão importante, não mereceu sequer o respeito de saber a verdade. Afinal sempre o que viu talvez não correspondesse à verdade, a essência e o ser que se via, talvez não fosse real, tal como não era o sentimento.
A vida é mesmo assim, as pessoas desiludem-nos, deixam-nos tristes, cabe-nos a nós aceitar e seguir caminho.
Qual a lição que eu ainda terei de aprender? Não sei bem, talvez que não valha a pena insistir e lutar por alguém que já nos fez sofrer uma vez. Afinal o que explica que voltemos para alguém que já nos magoou ou usou, mesmo que de forma inocente e não intencional?
Não sei. Uma vez disseram-me que não era amor era carência, eu não acreditei, apaixonada e romântica como sou achei sempre era amor, e era romântico e épico lutar com esperança num amor que achava existir e no qual acreditava. Hoje com a distância do tempo, olho para trás e vejo que essa pessoa tinha razão. Era pura carência, carência sexual e de atenção e carinho de um corpo que sempre foi tão meu, onde eu me sentia eu, onde eu era sem qualquer problema em ser e não conseguia abdicar daquilo, não conseguia deixar, não me realizava nem deixava feliz, a não ser naqueles 11 minutos repetidos vezes sem conta, mas a carência não me deixava partir, embora eu achasse que era amor. Por vezes tento convencer-me, para evitar a dor de ter investido dois anos da minha vida, que valeu a pena pelos momentos bons. Não valeu nada a pena, além dos orgasmos múltiplos, em nada me fez crescer. E os orgasmos são apenas uma necessidade da carne, não do espírito, se posso viver sem eles, posso, porque agora o espírito é mais forte que a carne.
Há gavetas que se devem fechar para sempre, que não valem a pena ser abertas, podemos ter um cheirinho a felicidade, mas depois não passa disso, tudo o resto faz com que não valha a pena, nem mesmo os bons momentos, pois provavelmente fechamo-nos a outros amores, ficamos cegos e viciados.
Escrevo para me lembrar, para me lembrar de partir, de nunca mais voltar  atrás, de perder a esperança, porque há esperanças que são como maldições, prendem-nos ao passado e impedem-nos de viver o presente e sonhar com o futuro.
A amizade talvez volte, quero acreditar que sim, ela tem sempre lugar e espaço, não é incompatível com nada, muito menos com o amor. Se não voltar, só vai tornar a desilusão ainda maior, mas quero acreditar que há pessoas que valem a pena, há tempo e momentos investidos, vivências, partilhas e experiências que criaram laços mais fortes que as intrigas, os medos, os ciúmes, os erros, as más acções ou as más palavras, ou mesmo a falta de coragem para quebrar o silêncio.
Que toda minha dor e sofrimento sejam em prol de duas vidas felizes, pelo menos não são em vão.
Resta-me continuar e olhar bem à volta para ver os escolhos e evitar os trambolhões. Resta-me acreditar que Ele me vai levar onde a confiança é sem fronteiras, para lá do que é mais profundo.