quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O sentimento...

"Não posso continuar a ouvir em silêncio. Tenho de falar consigo pelos meios que estão ao meu alcance. Trespassa-me a alma. Metade de mim é angústia, outra metade é esperança. Não me diga que é demasiado tarde, que sentimentos tão preciosos morreram para sempre. Ofereço-me de novo a si com um coração que ainda é mais seu do que antes, quando quase o despedaçou há oito anos e meio. Não ouse dizer que o homem esquece mais depressa, que o amor dele morre mais cedo. Eu não amei mais ninguém além de si. Posso ter sido injusto, fui fraco e despeitado, mas inconstante, nunca. Só por si penso e planeio. Não viu isso? É possível que não tenha compreendido os meus desejos? Eu não teria esperado nem mesmo estes dez dias se pudesse ter lido os seus sentimentos, como penso que deve ter lido os meus. Mal consigo escrever. Ouço a cada instante qualquer coisa que me subjuga. Você baixa a voz, mas eu consigo ouvir os seus tons(...)Oh, criatura demasiado boa, demasiado excelente! Faz-nos realmente justiça. Acredita que existe verdadeiro afecto e constância entre os homens. Acredite que eles são o mais fervorosos e firmes que é possível no F. W.
Tenho de ir, incerto quanto ao meu destino. Uma palavra, um olhar, bastará para decidir se entro esta noite em casa de seu pai, ou nunca."

in Persuasão de Jane Austen